Monday, October 03, 2005

O Mito de Orfeu

*Quando Orfeu, que era o dono de toda a musica que se pudesse fazer, apaixonou-se por Euridice, ele sabia que as estrelas do ceu nunca haveriam de estar tao perto das ondas do mar - o mundo enfim resumia-se, findava na distancia entre os pes e a cabeca de sua amada, ja que tudo de belo do mundo queria alcancar os dedos e os labios Euridice. Dizem que o amor de Euridice e Orfeu era etereo como as nuvens. E fazia com que Orfeu mirasse noite e dia o ceu infinito, para poder olhar so para ela.

"Eurídice... Eurídice... Eurídice...
Nome que pede que se diga coisas
De amor: nome do meu amor, que o vento
Aprendeu para despetalar a flor
Nome da estrela sem nome... Eurídice..."


E entao, a fortuna. No desespero de fugir da compulsao de Aristeu, que era viciado em tudo que Orfeu possuia, Euridice foi picada por uma serpente venenosa, e perdeu-se do amor pelas maos da morte.
Orfeu entao descobriu que, alem do mundo que era seu, havia as trevas, para onde fora sua ninfa. Mas como sem Euridice ate a luz do dia era motivo pra cantar a saudade e a dor, Orfeu decidiu que viver seria busca-la, mesmo que na escuridao.
Na sua viagem para a morte, tendo ele encontrado o Rei das Sombras, foi oferecida a Orfeu a possibilidade de voltar com sua amada para o sol. A condicao era que jamais olhasse pra tras, que deixasse Euridice segui-lo a distancia ate a vida, sem olhar antes disso para ela, sem perturbar aqueles que descansavam nas profundezas da morte.
Mas eis que Orfeu, encantado com a graca que recebera, enfeiticou-se pelo amor que nao aceita espera. E a apenas um passo de encontrar a luz do dia, Orfeu mirou por sobre os ombros e contemplou ali Euridice. Quando seus olhares se encontraram, Euridice resplandeceu por apenas um segundo, o sol ja lhe tocando as vestes. E entao virou seu corpo para sempre, a caminhar de volta para as trevas.
Louco e arrependido por sua fraqueza, Orfeu, que antes encantava as deusas cantando a eternidade, nao mais repetiu uma palavra que nao fosse o nome de Euridice. Seu lamento insano despertou a inveja de todas as musas, que silenciaram Orfeu cortando-lhe aos pedacos.

"Juntaram-se a Mulher, a Morte a Lua
Para matar Orfeu, com tanta sorte
Que mataram Orfeu, a alma da rua
Orfeu, o generoso, Orfeu, o forte.
Porém as três não sabem de uma coisa:
Para matar Orfeu não basta a Morte.
Tudo morre que nasce e que viveu
Só não morre no mundo a voz de Orfeu".


E dizem que, depois de jogada a lira de Orfeu ao rio, a correnteza nunca mais deixou de cantar as coisas do amor.

** (O Vinicius tambem gostou dessa historia, foi por isso que eu pedi a ajuda dele pra contar).