Thursday, November 16, 2006

Roberta Sá no show Braseiro

Friday, February 17, 2006

Cara de pau

*Nossa, faz um zilênio que eu não escrevo. É que eu tô na maior crise dos 20, esperando acabar o inferno astral pra ficar menos chata e poder escrever. Juro.

Monday, October 31, 2005

Quando a natureza socializa

Beaumont, Texas, 08/10/05
duas semanas depois de ser atingida pelo furacao Rita


*"Quando o dia da paz renascer, quando o sol da esperança brilhar, eu vou cantar
Quando o povo nas ruas sorrir, e a roseira de novo florir, eu vou cantar
Quando as cercas caírem no chão, quando as mesas se encherem de pão, eu vou cantar
Quando os muros que cercam os jardins, destruídos, então os jasmins vão perfumar" (Utopia, Ze Vicente)


**Nunca tinham ouvido falar desse tal Ze Vicente na vida. Alias, nunca souberam que havia gente no mundo preocupada com uma cerca que nao fosse a sua. Afinal, quem no mundo nao tem o que lhe e proprio pra se ocupar? Tem quem nao tenha nada?
E porque assim eles pensavam, era de fato que nao havia ninguem no mundo que usasse a madrugada pra calejar as maos na colheita, e que trabalhasse mesmo embaixo do sol a pino, nao porque nao se cansasse, mas porque nao ha motivo pra parar pro almoco quando nem almoco existe. Bastava que esses vagabundos trabalhassem e comeriam, oras, e assim esses homens cercaram seus quintais, mimaram seus filhos e estenderam bandeiras estreladas para vigiar seus jardins.
Foi quando veio a ventania. E nao bastava querer ficar na casa de madeira recem-pintada e madeira florida. E ja nao havia bandeira capaz de proteger a fonte e o balanco do quintal.
Naquele tempo faltou de tudo que nunca tinha faltado, e tudo o que antes fazia falta foi aquilo de que nem deu pra se lembrar. E, pela primeira vez, aqueles homens experimentaram uma comida que nao podiam chamar de sua, e dormiram acordados sob um teto de que nao puderam escolher a cor.
Entao, quando voltaram pra casa, cocaram as cabecas ao descobrirem, assustados, que havia mais gente por tras da cerca que caiu.

Classe faz diferenca

*Class Matters eh o melhor material jornalistico em multimidia de 2005 segundo a Online News Association (nao concordo, mas enfim, quem sou eu, ne?).
Quero me especializar em jornalismo multimidia quando eu crescer, acho bacaninha; nessa materia, por exemplo, dah pra voce se achar no meio das classes que compoem a sociedade daqui. Interatividade em flash eh muito cool, voce deveria experimentar.
Ah! Na materia tambem da pra descobrir se faz diferenca voce viver nos Estados Unidos e ser cozinheiro, pobre e sem escola ou entao ser dono de um banco, pos graduado e ganhar mais de 300 mil dolares por ano.
Afinal, convenhamos, cidadania e uma questao de classe, nao e mesmo?

**Olha o que eu tambem achei aqui. Gostei, parece que nao sou so eu que estou em duvida...

Wednesday, October 19, 2005

E foi assim que o meu primeiro confronto com a policia dos EUA aconteceu...

*Nao acredito que voce caiu nesse titulo sensacionalista chulo? Voce acha mesmo que eu confrontei a policia de azul daqui da terrinha? Isso e superestimar minha coragem, caro amiguinho.
Nao, eu nao estou falando do dia em que o policial nos achou na porta de uma festa que atormentava os vizinhos e disse "Ladies and gentlemen, if you don't live here, go home now" - porque, por mais que a saudacao showbizz seja hilaria na boca de um homem da lei, a gente ja estava indo embora entao ele ter aparecido nesse dia foi bobo e sem graca e nem conta.
Nhe.
O fato eh que, hoje a tarde, enquanto eu e minha colega de apartamento Maria voltavamos do dever estudantil cumprido aa nossa humilde casa, sofrendo as terriveis penas do trafego austero de Austin (se voce eh paulistano, troque "trafego austero" por "chegadinha ate ali e ja volto"), eis que "um freacking sinal red, que veio do nada (Mas Maria, e o yellow?) surge em frente ao civic Prata de minha roommate, e provoca com isso a reacao espontanea e imediata de um policial. Oh! Um cop! (Ohhhhhh!, diz a claque).
O oficial entao nos perseguiu bravamente ate o posto de gasolina mais proximo, onde disciplinou minha colega Maria com uma multa no valor de 200 verdinhas, uns 460 reais se a cotacao estiver amiga.
Imploramos (ou melhor, ela implorou, olha eu querendo participar) piedade, uma simples advertencia seria suficiente talvez... Mas o policial estadunidense foi implacavel no cumprimento de seu papel.
No cry, no candle, ele disse. Entao, olhando-nos por sob suas lentes escuras, abocanhou um donut e partiu furioso em seu vintage patrol car pela Riverside Highway...

**Quase que eu esqueco de contar um dialogo imperdivel! Antes do incidente com o cop, Maria resolveu fazer um deposito bancario. Eu achando que, como pessoas normais fazem, ela desceria do carro e faria isso atraves de um caixa eletronico daqueles que tem envelopes legais, certo? Naaaaao, mas eu nao sabia de nada. Nesse pais ha caixas eletronicos drive-trough!!! E eles sao enormes! As pessoas dirigem ate uma daquelas cancelas de estacionamento, falam com o atendente pelo interfone, abrem o cilindro de acrilico ao seu lado, colocam o dinheiro, recolocam o cilindro no lugar, que leve o dinheiro laaaaah pra cima pro banco... e volta com o recibo! Gente, nao tem isso no Brasil, ne? Sera que tem e eu nao sabia?
Pois ao ver minha surpresa, Lauren, que apesar de ter sido cortada da narrativa anterior estava conosco no carro, perguntou-me: "Como e que voces vivem?"
(Claque deixa o queixo cair e faz cara de "Que idiota!")
...
Mas serio, juro que me senti nos Jetsons. Fiquei com vontade de tirar uma foto do caixa eletronico, mas fiquei com medo dos segurancas acharem estranho e chamarem a policia...
Mal sabia eu, nao e mesmo? Ha Ha Ha...

***Alerta geral, alerta geral: semana passada eu tomei uma Budweiser Light (?) as duas da tarde (??) enquanto assistia ao baseball (???), e depois ouvi duas (????) cancoes de hip hop (?????) sem ser obrigada por ninguem, sozinha, no meu quarto, eu que apertei o play e tudo mais (??????). Juro.
Voces nao estao preocupados?
Hora de voltar pro Brasil. Ja.

Sunday, October 16, 2005

Horario de verao, acertem seus relogios

*Quando eu vim estudar aqui nos EUA, comecei a ter que lidar com as coisas de sempre e com coisas novas, e achava que, estando "sozinha", guiar minhas acoes pelo que minha cabeca julga certo, justo e sincero seria a unica opcao, portanto, simples de se fazer.
Mas nao e assim tao simples...
Hoje eu convivo com aqueles pra quem eu sou a "menina brasileira que veio estudar na UT em 2005", gente que pensa que essas 9 palavrinhas resumem tudo o que eu era antes de pisar nesse pais, e por isso me dao direito a um "zero", uma partida, um ponto que desconsidera qualquer coisa que existesse antes...
So que antes faz diferenca.
Hoje eu convivo com aqueles que dividiram comigo 19 anos, mas que de certa forma, sem eu conseguir me dar conta do que isso significa, perderam os ultimos tempos da minha vidinha... Eh certo que nao perderam o "macro", nao perderam as descricoes dos lugares, das aulas, das pessoas, do estilo de vida, nao pereram o "resumo da experiencia"... mas tambem eh certo que nao estao mais perto do "micro nosso de cada dia"... Por sete meses eles nao aguentaram o mau humor de manha, nao cobraram beijo na hora de chegar em casa, nao bateram na porta aquele dia que tinha prova e o despertador nao tocou, nao deram carona o dia que a lei da gravidade agiu contra na porta do predio e ralou os joelhos, fez perder o onibus...
So que olha so. Agora tambem faz diferenca.
E eu nao sei se eu quero que faca.
Eu nao sei se eu quero que as coisas de agora sejam pra sempre. Nao quero seguir os conselhos que eu ouvi tantas as vezes aqui, de me desapegar, de pensar menos no que esta longe, de aproveitar o lugar e o minuto... Porque eu morro de deixar de acreditar que eu ja tenho uma historia, um caminho que agrada a quem eu amo, que eh seguro, que eh bom...
Mas, ao mesmo tempo, eu nao sei se quero que as coisas de ontem sejam as unicas. Nao quero pensar que, daqui pra frente, tudo que vier a se agregar eh "duvidoso", eh "mal", eh caracteristica que so passou pelo julgamento da minha cabecinha, muitas vezes sugerida por gente que nem eh muito "boa" nao...essa coisa de "se eh pra voltar pior eh melhor ficar em casa"... eh preciso que qualquer experiencia nova pra mim seja uma confirmacao da formula? A ideia de que "por-mais-que-eu-improvise-eu-ja-sei-o-final"... Que eu tenho coisas em mim que vao ser o que sao pra sempre...ela me faz sentir velha, gasta... triste...

**Como renovar, se a novidade eh cega, atropela as coisas que eram antes, agride, cansa, desgasta tanto? Como reconstruir, se o passado grita alto, e vai rachando agudo os novos pilares de mim? Como andar confiante entre o que eu era e o que eu sou, se tudo o que eu vejo eh que quem caminha sozinho carrega na mala as caras desconfiadas de qualquer um dos tempos, do passado, do presente... e as vezes ate pisoteia as pessoas que ama sem querer?

***Eh estranho estar longe. Eh ainda mais estranho estar longe e saber que se volta... porque ha que se reportar pra diversas instancias, e eu nao sei se so os meus valores dao conta delas todas... sem ferir ninguem e sem me ferir...
E de tudo isso, so sei que, com o horario de verao, estou uma hora mais longe do tempo do Brasil. E que, a cada badalada do seu relogio adiantado, eu estou uma hora mais perto de casa.
Como se o tempo e a geografia zombassem do meu pavor.

Monday, October 03, 2005

O Mito de Orfeu

*Quando Orfeu, que era o dono de toda a musica que se pudesse fazer, apaixonou-se por Euridice, ele sabia que as estrelas do ceu nunca haveriam de estar tao perto das ondas do mar - o mundo enfim resumia-se, findava na distancia entre os pes e a cabeca de sua amada, ja que tudo de belo do mundo queria alcancar os dedos e os labios Euridice. Dizem que o amor de Euridice e Orfeu era etereo como as nuvens. E fazia com que Orfeu mirasse noite e dia o ceu infinito, para poder olhar so para ela.

"Eurídice... Eurídice... Eurídice...
Nome que pede que se diga coisas
De amor: nome do meu amor, que o vento
Aprendeu para despetalar a flor
Nome da estrela sem nome... Eurídice..."


E entao, a fortuna. No desespero de fugir da compulsao de Aristeu, que era viciado em tudo que Orfeu possuia, Euridice foi picada por uma serpente venenosa, e perdeu-se do amor pelas maos da morte.
Orfeu entao descobriu que, alem do mundo que era seu, havia as trevas, para onde fora sua ninfa. Mas como sem Euridice ate a luz do dia era motivo pra cantar a saudade e a dor, Orfeu decidiu que viver seria busca-la, mesmo que na escuridao.
Na sua viagem para a morte, tendo ele encontrado o Rei das Sombras, foi oferecida a Orfeu a possibilidade de voltar com sua amada para o sol. A condicao era que jamais olhasse pra tras, que deixasse Euridice segui-lo a distancia ate a vida, sem olhar antes disso para ela, sem perturbar aqueles que descansavam nas profundezas da morte.
Mas eis que Orfeu, encantado com a graca que recebera, enfeiticou-se pelo amor que nao aceita espera. E a apenas um passo de encontrar a luz do dia, Orfeu mirou por sobre os ombros e contemplou ali Euridice. Quando seus olhares se encontraram, Euridice resplandeceu por apenas um segundo, o sol ja lhe tocando as vestes. E entao virou seu corpo para sempre, a caminhar de volta para as trevas.
Louco e arrependido por sua fraqueza, Orfeu, que antes encantava as deusas cantando a eternidade, nao mais repetiu uma palavra que nao fosse o nome de Euridice. Seu lamento insano despertou a inveja de todas as musas, que silenciaram Orfeu cortando-lhe aos pedacos.

"Juntaram-se a Mulher, a Morte a Lua
Para matar Orfeu, com tanta sorte
Que mataram Orfeu, a alma da rua
Orfeu, o generoso, Orfeu, o forte.
Porém as três não sabem de uma coisa:
Para matar Orfeu não basta a Morte.
Tudo morre que nasce e que viveu
Só não morre no mundo a voz de Orfeu".


E dizem que, depois de jogada a lira de Orfeu ao rio, a correnteza nunca mais deixou de cantar as coisas do amor.

** (O Vinicius tambem gostou dessa historia, foi por isso que eu pedi a ajuda dele pra contar).

Monday, September 26, 2005

Resumindo...

*E mesmo uma falta de vergonha.
Um absurdo, um sacrilegio, e seria motivo de excomunhao se eu fosse papisa.
Mas a verdade e que ja faz mais de um mes que eu troquei meus acentos pelo meu "accent" de brasileira falando ingles. E so agora estou tirando a poeira do diario (agradecimentos a Lu, que me mandou um recadinho e me fez lembrar que eu tenho blog). Isso e um desapego aa vergonha na cara, ainda mais porque nao da pra reclamar de falta de assunto. Tem um monte de assunto. Melhor comecar do comeco entao.

*Eu tenho um novo lar em Austin. E o primeiro apartamento terreo do nono predio do condominio Town Lake, o numero 911. Quando dou meu endereco, eu gosto de falar nine eleven pra ver as pessoas torcerem o nariz lembrando do 9/11, o Onze de Setembro no formato de data daqui. Minhas colegas ja gostam mais de falar nine one one, o telefone da emergencia, que assim todo mundo ja fica sabendo que esse ape e um caso de policia. Nao importando como se leia o numero, nosso endereco e ainda mais engracadinho (e paradoxal) porque moramos na Rua do Vale Prazeiroso, numero 1109, apartamento 911. Nao, nao manda cartinha assim que nao vai chegar, manda assim, olha:
Miss Daniela da Silva
1109 South Pleasant Valley #911
Austin, TX, USA 78741

E se nao colocar o miss eu choro, eu adoro(aria) ser miss.

**Sua carta vai chegar num apartamento estadunidense, que comeca, nao surpreendentemente, com uma cozinha estadunidense(como a gente chama as cozinhas conjugadas com a sala, chao de madeira, cheias de equipamentos que eu nao sei usar cujo controle fica sempre no visor do microondas, seja la o que essa bugiganga for). Na mesa dessa cozinha tem quatro pecas de jogo estadunidense, uma invencao incrivel que so no Brasil e atribuida aos "americanos". Essas esterinhas de bambu correspondem a quatro meninas: duas brasileiras e duas estadunidenses (que acham que um abridor de latas eletrico de trinta centimetros eh mais pratico que um daqueles em forma de peixe).
A menina do quarto um e a Candice, ela tem uma estante cheia de DVDs, e essa peca na nossa sala anda virando meu gosto por romance-meloso-hollywoodiano pras comedias bobas e pras comedias boas. Eu amei Superstar e amei Sideways, pra citar uma de cada tipo. Esse ultimo, amei mais do que minha alma ja imaginou que se pode amar um filme. E deliciosamente engracado, e todas as pessoas do mundo deveriam assistir.
A menina do quarto dois e a Michelle, que dividiu o quarto comigo no ano passado, e que de repente eu descubro ser a pessoa que eu menos conheci nesse pais. Porque eu nao acredito que as pessoas mudam. Eu so acredito que o pacote se desembrulha aos poucos. Ela gosta mais de alcool e de hiphop do que de respeitar as pessoas. E acha que o Brazil eh uma terra de gente viciada em drama, e eu nao estou falando de novelas.
As culpadas dessa conclusao da Michelle somos eu e a Maria, a menina do quarto 3. Brasileira como eu, ela mora no Texas desde os 8 anos. Ela era a melhor amiga da Candice, mas veja como sao as coisas: Por mais que paguemos o mesmo aluguel, que frequentemos a mesma universidade; por mais que a Maria fale ingles sem sotaque e portugues enrolado, rola no psicologico dessa casa uma divisao entre as moradoras do quarto um e dois e as dos quartos tres e quatro - a ordem numerica, segundo quem vem antes, corresponde aa ordem de importancia.
E um saco mesmo, mas as estadunidentes daqui acham que o poder de ditar as regras lhes foi herdado naturalmente. Afinal, eu e a Maria nao sabemos tirar vantagem das coisas como elas sabem, ate essa bobeira eu ja fui obrigada a ouvir. E eu so ESPERO DO FUNDO DO MEU CORACAO que qualquer semelhanca com o capitalismo, o destino manifesto e a hegemonia mundial seja mera coincidencia. Porque se nao ia ser um saco a previsibilidade desse mundo.

***Eu tambem tenho um emprego novo. Eh so voce clicar aqui que voce vai ver o meu nomezinho la. No trabalho e na faculdade eu aprendo tanta coisa que parece que meu cranio fica pequeno pro meu cerebro e minha cabeca doi. Eh muito gostoso.

****Eu tambem andei me arriscando a escrever aqui. Essa e uma experiencia de jornalismo cidadao do Austin Statesman, o jornal local, pra cobrir o Austin City Limits - que foi mais do que sensacional.
Alias, como o Sem Os Acentos nao e um blog jornalistico, eu posso contar essa parte: EU VI O SHOW DO COLDPLAY DE TAO PERTO! DE TAO PERTO! DEUS SALVE AS CREDENCIAIS PRA JORNALISTA, UM DIA ESSA PROFISSAO TINHA QUE VALER DE ALGUMA COISA (bricadeirinha, brincaderinha)... NAO FOI O MELHOR SHOW DO FESTIVAL - O ARCADE FIRE MANDOU BEM DEMAIS - MAS FOI O MAIS APAIXONANTE! MEU, ESSES CARAS TEM UMA ENERGIA MTO LEGAL NO PALCO, E MUITO DIFERENTE, E DE ARREPIAR.
Pronto, agora voces esperem minha "coberturazinha do ACL", num blog que eu vou colocar no ar essa semana, que vai ser mais seria do que essa bobeira que acabo de escrever.
E agora o trico esta em dia.