Saturday, July 30, 2005

Perdidos e achados

*Eu até disse certa vez a um amigo que odeio filosofia, porque pensar a respeito dos grandes mistérios do mundo me dá uma dor de cabeça danada.
Acredito que o raciocínio humano não foi feito pra alcançar a resposta dos típicos "quem somos, de onde viemos, pra onde vamos" da vida. Faça você mesmo o exercício lógico de tentar reconstruir os passos da nossa existência de trás pra frente, chegando então um planeta terra vazio, depois a um universo recém explodido e depois a uma partícula superdensa e concentrada de tudo que fica mergulhada no meio do... nada?
O meu medo da filosofia vem da angústia que sinto quando a razão se esgota, quando o pensamento me leva pra esse "branco" da nossa memória de espécie. Embora eu costume associar lapsos como esse à incapacidade de me lembrar de algo que aconteceu num passado muito distante, percebo que tenho a mesma sensação quando penso no futuro da humanidade daqui a zilhões de anos - o que me faz acreditar, num racicíonio ridiculamente mal refinado, que deve ser mesmo possível uma existência que não se meça pelo tempo, já que, no fundo, no fundo, todas a frações do tempo devem ser simples agrupamentos de fatos cíclicos, cada vez mais parecidos, em torno dos quais nós é que giramos, numa "sequência de humanos" que encaram as coisas de um jeito cada vez mas estranho e cada vez mais igual... Afinal o tempo passa, ou o que passamos somos nós? Bah, é cada uma que me vem na telha...
Pois bem, o fato que eu quero contar é que, de uns tempos pra cá, não são apenas os indagamentos filosóficos que me fazem estremecer. Eu, logo eu que sempre preferi medir a vida na paixão e não na lógica, tenho confundido meus instrumentos de captar o mundo de tal maneira, que acabo por sofrer apaixonadamente por medo daquilo que não consigo entender.
Amadurecimento é um negócio complicado que, às vezes, pode ser que fortaleça a cabeça e atrofie o coração... sendo analista de mim mesma por alguns instantes, concluo que trata-se de um caso de falta de fé. Quanto mais eu vejo do mundo e das pessoas, e quanto mais eu me proponho a entender e a desentender tudo isso, torna-se maior o pavor de pisar no terreno das coisas em que só é possível se acreditar.
Eu fico perdida assim quando penso na morte, no mistério de inexistir, logicamente impossível de se representar... quando penso na minha fortuna no amor, no trabalho e na história... ou quando penso no que pode acontecer com o mundo durante esses cinco minutos que estou na frente do computador... O que seria mais estranho, a Terra acabar numa piscada, ou os passarinhos misteriosamente continuarem voando, os meninos inacreditavelmente continuarem empinando pipa na minha janela, num acaso maluco que escolhe a continuidade ao invés do caos de zilhões e zilhões de possibilidades?

**Se alguém conseguiu chegar ao final desse post chato e viajante, um pirulito aqui. Uma resposta gostosinha pra tantas perguntas. Minha parte preferida: "Deus tem de existir. Tem Beleza demais no universo, e Beleza não pode ser perdida. E Deus é esse Vazio sem fim, gamela infinita, que pelo universo vai colhendo e ajuntando toda a Beleza que há, garantindo que nada se perderá, dizendo que tudo o que se amou e se perdeu haverá de voltar, se repetirá de novo. Deus existe para tranqüilizar a saudade."

***E não, eu não ligo pra quem acha que o Rubem Alves é meio blasé. Pra mim ele é como o perfeito avô das crianças que têm medo da chuva.

Thursday, July 28, 2005

"Eu defendo a paz e a justiça"

*Aqui está uma das melhores matérias que li nos últimos tempos - uma entrevista com o atirador de elite estadunidense que matou, em Bagdá, o jornalista iraquiano Yasser Salihee (que não estava dirigindo um carro bomba, mas sim buscando sua filha na escola para levá-la à natação).

**Algo parecido aconteceu com Jean Charles de Menezes, que está sendo velado em Gonzaga, Minas Gerais, enquanto publico essa nota. O brasileiro foi morto por policiais à paisana em Stockwell, que fica ao sul de Londres, na Inglaterra. Assistindo aos flashs televisivos do velório, não consigo parar de pensar na hipótese de que, se fosse como eu, Jean Charles passava boa parte dos seus dias difíceis fora do país pensando na alegria da hora de voltar ao Brasil...

***Pra quem também fica sem ar ao saber dessas histórias, aqui vai um link de protesto. E se na sua opinião um abaixo-assinado não resolve nada dessa patifaria mundial que é a tal da "guerra ao terror", meu argumento é que, não fosse a pressão da opinião pública, Bush e seus amiguinhos estariam assassinando muito mais gente por aí, sem nem ao menos se darem ao trabalho de pensar no assunto ou pedir desculpas...
Desculpas, desculpas, a gente se conforma com cada coisa...