Perdidos e achados
*Eu até disse certa vez a um amigo que odeio filosofia, porque pensar a respeito dos grandes mistérios do mundo me dá uma dor de cabeça danada.
Acredito que o raciocínio humano não foi feito pra alcançar a resposta dos típicos "quem somos, de onde viemos, pra onde vamos" da vida. Faça você mesmo o exercício lógico de tentar reconstruir os passos da nossa existência de trás pra frente, chegando então um planeta terra vazio, depois a um universo recém explodido e depois a uma partícula superdensa e concentrada de tudo que fica mergulhada no meio do... nada?
O meu medo da filosofia vem da angústia que sinto quando a razão se esgota, quando o pensamento me leva pra esse "branco" da nossa memória de espécie. Embora eu costume associar lapsos como esse à incapacidade de me lembrar de algo que aconteceu num passado muito distante, percebo que tenho a mesma sensação quando penso no futuro da humanidade daqui a zilhões de anos - o que me faz acreditar, num racicíonio ridiculamente mal refinado, que deve ser mesmo possível uma existência que não se meça pelo tempo, já que, no fundo, no fundo, todas a frações do tempo devem ser simples agrupamentos de fatos cíclicos, cada vez mais parecidos, em torno dos quais nós é que giramos, numa "sequência de humanos" que encaram as coisas de um jeito cada vez mas estranho e cada vez mais igual... Afinal o tempo passa, ou o que passamos somos nós? Bah, é cada uma que me vem na telha...
Pois bem, o fato que eu quero contar é que, de uns tempos pra cá, não são apenas os indagamentos filosóficos que me fazem estremecer. Eu, logo eu que sempre preferi medir a vida na paixão e não na lógica, tenho confundido meus instrumentos de captar o mundo de tal maneira, que acabo por sofrer apaixonadamente por medo daquilo que não consigo entender.
Amadurecimento é um negócio complicado que, às vezes, pode ser que fortaleça a cabeça e atrofie o coração... sendo analista de mim mesma por alguns instantes, concluo que trata-se de um caso de falta de fé. Quanto mais eu vejo do mundo e das pessoas, e quanto mais eu me proponho a entender e a desentender tudo isso, torna-se maior o pavor de pisar no terreno das coisas em que só é possível se acreditar.
Eu fico perdida assim quando penso na morte, no mistério de inexistir, logicamente impossível de se representar... quando penso na minha fortuna no amor, no trabalho e na história... ou quando penso no que pode acontecer com o mundo durante esses cinco minutos que estou na frente do computador... O que seria mais estranho, a Terra acabar numa piscada, ou os passarinhos misteriosamente continuarem voando, os meninos inacreditavelmente continuarem empinando pipa na minha janela, num acaso maluco que escolhe a continuidade ao invés do caos de zilhões e zilhões de possibilidades?
**Se alguém conseguiu chegar ao final desse post chato e viajante, um pirulito aqui. Uma resposta gostosinha pra tantas perguntas. Minha parte preferida: "Deus tem de existir. Tem Beleza demais no universo, e Beleza não pode ser perdida. E Deus é esse Vazio sem fim, gamela infinita, que pelo universo vai colhendo e ajuntando toda a Beleza que há, garantindo que nada se perderá, dizendo que tudo o que se amou e se perdeu haverá de voltar, se repetirá de novo. Deus existe para tranqüilizar a saudade."
***E não, eu não ligo pra quem acha que o Rubem Alves é meio blasé. Pra mim ele é como o perfeito avô das crianças que têm medo da chuva.
Acredito que o raciocínio humano não foi feito pra alcançar a resposta dos típicos "quem somos, de onde viemos, pra onde vamos" da vida. Faça você mesmo o exercício lógico de tentar reconstruir os passos da nossa existência de trás pra frente, chegando então um planeta terra vazio, depois a um universo recém explodido e depois a uma partícula superdensa e concentrada de tudo que fica mergulhada no meio do... nada?
O meu medo da filosofia vem da angústia que sinto quando a razão se esgota, quando o pensamento me leva pra esse "branco" da nossa memória de espécie. Embora eu costume associar lapsos como esse à incapacidade de me lembrar de algo que aconteceu num passado muito distante, percebo que tenho a mesma sensação quando penso no futuro da humanidade daqui a zilhões de anos - o que me faz acreditar, num racicíonio ridiculamente mal refinado, que deve ser mesmo possível uma existência que não se meça pelo tempo, já que, no fundo, no fundo, todas a frações do tempo devem ser simples agrupamentos de fatos cíclicos, cada vez mais parecidos, em torno dos quais nós é que giramos, numa "sequência de humanos" que encaram as coisas de um jeito cada vez mas estranho e cada vez mais igual... Afinal o tempo passa, ou o que passamos somos nós? Bah, é cada uma que me vem na telha...
Pois bem, o fato que eu quero contar é que, de uns tempos pra cá, não são apenas os indagamentos filosóficos que me fazem estremecer. Eu, logo eu que sempre preferi medir a vida na paixão e não na lógica, tenho confundido meus instrumentos de captar o mundo de tal maneira, que acabo por sofrer apaixonadamente por medo daquilo que não consigo entender.
Amadurecimento é um negócio complicado que, às vezes, pode ser que fortaleça a cabeça e atrofie o coração... sendo analista de mim mesma por alguns instantes, concluo que trata-se de um caso de falta de fé. Quanto mais eu vejo do mundo e das pessoas, e quanto mais eu me proponho a entender e a desentender tudo isso, torna-se maior o pavor de pisar no terreno das coisas em que só é possível se acreditar.
Eu fico perdida assim quando penso na morte, no mistério de inexistir, logicamente impossível de se representar... quando penso na minha fortuna no amor, no trabalho e na história... ou quando penso no que pode acontecer com o mundo durante esses cinco minutos que estou na frente do computador... O que seria mais estranho, a Terra acabar numa piscada, ou os passarinhos misteriosamente continuarem voando, os meninos inacreditavelmente continuarem empinando pipa na minha janela, num acaso maluco que escolhe a continuidade ao invés do caos de zilhões e zilhões de possibilidades?
**Se alguém conseguiu chegar ao final desse post chato e viajante, um pirulito aqui. Uma resposta gostosinha pra tantas perguntas. Minha parte preferida: "Deus tem de existir. Tem Beleza demais no universo, e Beleza não pode ser perdida. E Deus é esse Vazio sem fim, gamela infinita, que pelo universo vai colhendo e ajuntando toda a Beleza que há, garantindo que nada se perderá, dizendo que tudo o que se amou e se perdeu haverá de voltar, se repetirá de novo. Deus existe para tranqüilizar a saudade."
***E não, eu não ligo pra quem acha que o Rubem Alves é meio blasé. Pra mim ele é como o perfeito avô das crianças que têm medo da chuva.