Saturday, August 20, 2005

Bye bye, Brasil

*Oi , coração
Não dá pra falar muito não
Espera passar o avião
Assim que o inverno passar
Eu acho que vou te buscar
Aqui tá fazendo calor
Deu pane no ventilador
Já tem fliperama em Macau
Tomei a costeira em Belém do Pará
Puseram uma usina no mar
Talvez fique ruim pra pescar
Meu amor

No Tocantins
o chefe dos Parintintins
vidrou na minha calça Lee
Eu vi uns patins prá você
Eu vi um Brasil na tevê
Capaz de cair um toró
Estou me sentindo tão só
Oh! tenha dó de mim
Pintou uma chance legal
um lance lá na capital
Nem tem que ter ginasial
Meu amor

No Tabaris
o som é que nem os Bee Gees
Dancei com uma dona infeliz
que tem um tufão nos quadris
Tem um japonês atrás de mim
Eu vou dar um pulo em Manaus
Aqui tá quarenta e dois graus
O sol nunca mais vai se pôr
Eu tenho saudades da nossa canção
Saudades de roça e sertão
Bom mesmo é ter um caminhão
Meu amor
Baby bye, bye
Abraços na mãe e no pai
Eu acho que vou desligar
As fichas já vão terminar
Eu vou me mandar de trenó
pra Rua do Sol, Maceió
Peguei uma doença em Ilhéus
Mas já estou quase bom
Em março vou pro Ceará
Com a bênção do meu Orixá
Eu acho bauxita por lá
Meu amor

Bye,bye Brasil
A última ficha caiu
Eu penso em vocês night 'n day
Explica que tá tudo OK
Eu só ando dentro da Lei
eu quero voltar podes crer
eu vi um Brasil na TV
Peguei uma doença em Belém
Agora já tá tudo bem
Mas a ligação está no fim
Tem um japonês atrás de mim
Aquela aquarela mudou
Na estrada peguei uma cor
Capaz de cair um toró
estou me sentindo um jiló
Eu tenho tesão é no mar
Assim que o inverno passar
Bateu uma saudade de ti
Estou a fim de encarar um siri
Com a bênção do Nosso Senhor
O sol nunca mais vai se pôr
(Chico Buarque e Roberto Menescal)

Thursday, August 18, 2005

Sobre nós dois

*Sobre a mesa, luz de velas. A casa assim, à meia-luz, sempre me parece menos velha, menos cheia de cacarecos. E mesmo eu sou mais bonita à meia-luz, você deve concordar. A metade de mim que se ilumina pelas chamas parece até mais corada, mais alegre, porque se protege no meio-escuro e perde o medo.
Sobre a louça chinesa, seu prato predileto. Peixe, sal, alecrim. Batatas coradas pra acompanhar. Um conjunto perfeito de coisas tão simples; perfeito pelo aroma, perfeito pelo sabor, perfeito pela vontade. Lembra de como éramos no começo do namoro, quando você me atropelou de motocicleta? Você ainda noivava a outra quando me disse isso... que nós dois éramos um conjunto perfeito de coisas simples... perfeitos pelo nosso desejo, nosso gosto, nosso cheiro... eu acho que era disso que você falava quando ainda falava, não era?
Sobre a cama, pétalas de rosas vermelhas. Não ri, eu sou assim, você sabe disso. Eu sempre quis um amor de novela, um romance de filme, essas coisas. Minha memória é fotográfica, eu gosto de ter cenas bonitas de nós dois pra lembrar! Você até tentou me ensinar o lirismo quase etério da sutileza, do que não se pode pensar ou prever, mas eu acho que ainda prefiro assim, sabe? Como no cinema...
Sobre o ar, The Look of Love. Eu não gosto de bossa nova, só estou tocando isso por causa de você, viu?
Sobre meu corpo, flor de laranjeira e cetim. E nem adianta pensar debochado que essa é aquela camisola velha, eu quase morri de vergonha quando você percebeu que eu sempre usava a mesma nesses dias. Comprei hoje uma nova, fiquei muitos minutos olhando pra ela quando cheguei em casa, "como é bonita", eu pensei... sabe aquelas coisas tão bonitas que nem parecem que são minhas? Ela é assim, e é cor de rosa.
Tudo isso e eu aqui, falando sobre nós dois.
Falando e pensando e maldizendo o "enquanto você não vem".
Será o bilhar montado sobre a mesa? O copo cheio sobre o balcão? A juventude das outras sobre uma cama qualquer?
Eu sei. Você ainda não veio porque aqui em casa o tempo passa mais depressa... tão mais depressa, que o perfume já se evaporou no ar sem música. E até as velas terminaram de escorrer sobre os candelabros de cristal.

Sunday, August 14, 2005

Como se fosse ano novo...

*Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você sesentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
Eque pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono dequem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar esofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
Eque se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.
(Victor Hugo)

**Eu adoro esse poema. E como eu estava querendo ser um pouco mais feliz nessa madrugada, fui buscá-lo pra publicar aqui. Ele é legal, né?

***Já foram os 3 meses em casa. E essa roda-viva que não pára... ai...
Volto pra Austin no próximo sábado, mas nada de ansiedade dessa vez. "A gente pensa que os problemas acabam porque muda de casa mas esquece que a gente também vai pra casa nova", disse-me uma amiga. Se vão comigo os problemas, ora, tem que ter espaço na mala pra levar também as soluções.
Na verdade, viajar é uma troca simples: o conforto de casa, a manha e o colinho da família por aquela força interior absurda de resistência, de defesa e de aprendizado que só responde a um chamado mais forte que a vontade, que é a necessidade. É necessário ser forte sempre. Ainda mais então quando se está sozinho. Mas eu me encontro por aí.
E enfim tudo ficará bem, ficará mais calmo, mais silencioso e mais sereno... e mais feliz, né?

Friday, August 12, 2005

Considerações sobre a última hora

*Pavor deve ser quando a gente descobre que a "esperança que venceu o medo" foi comprada por 11,5 milhões de reais.
Pavor deve ser quando a gente descobre que essa esperança custava mais caro do que podíamos pagar, e custava tão caro que nos esvaziou os bolsos, roubou-nos as moedas, a cara e os sonhos.
Pavor deve ser quando 52 milhões de pessoas se convencem de que seus 52 milhões de votos não garantem tanta governabilidade quanto a custosa amizade de meia dúzia de picaretas. E quando isso é democracia.
Pavor deve ser quando acontece o que aquela atriz avisou. Porque aquela atriz avisou, viu? Avisou e nós fizemos piada do medo dela. E é por isso que hoje muitos caçoam de nós. "Eu sabia que nada jamais tinha/era possível/haveria de mudar. Mudar é mal", eles dizem, rindo-se do fato de que sentiram antes o mesmo pavor que hoje humildemente pedimos licença pra compartilhar.
Pavor deve ser quando as palavras passam a valer o nada que elas sempre valeram, pra enfim ceder espaço à toda a palpabilidade dos malotes de dinheiro. Pavor deve ser quando valores um dia inimagináveis adquirem forma cúbica, peso, medidas. Dinheiro vivo, não por acaso.
Pavor deve ser quando a esperança desbota da camiseta. E aí o medo vence.


**Eu ia postar só o textinho-desabafo-um-pouco-mais-sutil, mas não dá. Antes que mais pessoas tentem me constranger com aquela de "E você viu o seu PT, hein?", eu já aviso que não, não adianta tentar me constranger, porque eu não tenho vergonha de ter votado no Lula.
Alguns motivos da minha cara-de-pau de ter feito isso com o Brasil:
1- Eu não vendi meu voto por uma ponte que ia ser muito bem construída na porta aqui de casa.
2- Eu não paguei com o meu voto pela estrada que está bem ajeitadinha e nem pelo prazer de falar no celular tão mais barato depois da privatização.
3- Eu não pirei no meu voto por um maluco que queria construir uma bomba atômica (e eleger uns deputados com ele).
4- Eu não "dei meu voto pro Lula porque ele já tinha combinado com uns amigos em comum que ia enganar bastante o povo e ao mesmo tempo beneficiar as multinacionais de papai".
5- E para alívio geral de vocês, meus amiguinhos, eu também não troquei meu voto por uma parcela do mensalão. Portanto podem parar de CPIzar a minha vida que eu já explico meu pecado.
Eu votei no PT porque ali havia uma proposta de mudar as coisas, e porque eu realmente acredito que elas devem mudar, que elas podem mudar, e que não se muda nada quando a gente rejeita sempre alguns caminhos pra adotar sempre os mesmos outros de sempre.
Aquilo me pareceu bom. E eu acreditei mesmo naquilo. Acreditei muito, acreditei de coração.
Tá explicado?

***Agora, se vocês que tanto me perguntam já sabiam há tempos que o PT ia largar a tal da moralidade de lado, parabéns pela esperteza. Talvez eu também estivesse achando vocês bem burros se o PT tivesse arrebentado a boca do balão, tivesse acabado com a fome e promovido a paz mundial. Talvez eu também levantasse o cartaz "Eu já sabia".
Mas senhores espertinhos, só me façam a gentileza de não esquecer que o mundo ainda está em guerra, que a fome persiste na esquina da sua casa e que não talvez não seja uma boa hora pra sair e comemorar o fato de que eu e aqueles outros 52 milhões de pessoas finalmente assumimos que somos muito ignorantes.

****Ah... e só mais um recadinho pontual, porque isso ficou doendo muito fundo.
O governo do metalúrigico ignorante não está afundando, como você sabia que ia acontecer. O governo de um presidente omisso e incompetente está desmoronando justamente por ter parodiado a prática dos doutorezinhos e coronézinhos de plantão há tempos na nossa política. E com isso está decepcionando muita gente, inclusive gente que também mal botou a cara na escola, mas que mesmo assim teve cara pra mudar de caminho no meio da inércia de décadas e décadas de "deixa seguir como está", que teve cara pra mudar a história, e que não tem que andar de cara abaixada só porque você acha que essa gente sem classe é culpada pelos problemas do Brasil.
E se isso tudo não é triste pra você... nossa...

Thursday, August 04, 2005

Eu vou...

*...assistir ao Austin City Limits Festival Não é legal? Tão legal que eu queria levar todos os leitores desse blog comigo!!! Queria dividir esse momento com todos vocês, meus camaradinhas! Até pensei em escrever um post promoção, naquela linha: "Que bandas você acha que eu vou assistir no ACL??? Acerte as 7 bandas que eu não quero perder no festival e concorra a um botom colorido!!!", mas pensei que ninguém ia achar divertido...

**...contratar um estagiário de jornalismo para trabalhar comigo. Ele deverá decupar as minhas fitas de entrevistas, ter muito medo de me desagradar, ficar ao telefone quando os assessores pedirem para aguardar na linha ouvindo música de caminhão de gás e topar trabalhar simplesmente para colocar no currículo que "possui experiência profissional" (já que eu não pretendo pagá-lo). Interessados podem comentar esse post e deixar seu e-mail, telefone e foto (sendo preferencialmente homens filiados a alguma agência de modelos em São Paulo).
... Ah, o prazer de ser jornalista no sistema...


*** ..."por entre fotos e nomes, os olhos cheios de cores, o peito cheio de amores vãos... Eu vou! Por que não? Por que não?"

**** ...largar do computador e consultar um médico. Que a dor de garganta já me desespera.