Monday, September 26, 2005

Resumindo...

*E mesmo uma falta de vergonha.
Um absurdo, um sacrilegio, e seria motivo de excomunhao se eu fosse papisa.
Mas a verdade e que ja faz mais de um mes que eu troquei meus acentos pelo meu "accent" de brasileira falando ingles. E so agora estou tirando a poeira do diario (agradecimentos a Lu, que me mandou um recadinho e me fez lembrar que eu tenho blog). Isso e um desapego aa vergonha na cara, ainda mais porque nao da pra reclamar de falta de assunto. Tem um monte de assunto. Melhor comecar do comeco entao.

*Eu tenho um novo lar em Austin. E o primeiro apartamento terreo do nono predio do condominio Town Lake, o numero 911. Quando dou meu endereco, eu gosto de falar nine eleven pra ver as pessoas torcerem o nariz lembrando do 9/11, o Onze de Setembro no formato de data daqui. Minhas colegas ja gostam mais de falar nine one one, o telefone da emergencia, que assim todo mundo ja fica sabendo que esse ape e um caso de policia. Nao importando como se leia o numero, nosso endereco e ainda mais engracadinho (e paradoxal) porque moramos na Rua do Vale Prazeiroso, numero 1109, apartamento 911. Nao, nao manda cartinha assim que nao vai chegar, manda assim, olha:
Miss Daniela da Silva
1109 South Pleasant Valley #911
Austin, TX, USA 78741

E se nao colocar o miss eu choro, eu adoro(aria) ser miss.

**Sua carta vai chegar num apartamento estadunidense, que comeca, nao surpreendentemente, com uma cozinha estadunidense(como a gente chama as cozinhas conjugadas com a sala, chao de madeira, cheias de equipamentos que eu nao sei usar cujo controle fica sempre no visor do microondas, seja la o que essa bugiganga for). Na mesa dessa cozinha tem quatro pecas de jogo estadunidense, uma invencao incrivel que so no Brasil e atribuida aos "americanos". Essas esterinhas de bambu correspondem a quatro meninas: duas brasileiras e duas estadunidenses (que acham que um abridor de latas eletrico de trinta centimetros eh mais pratico que um daqueles em forma de peixe).
A menina do quarto um e a Candice, ela tem uma estante cheia de DVDs, e essa peca na nossa sala anda virando meu gosto por romance-meloso-hollywoodiano pras comedias bobas e pras comedias boas. Eu amei Superstar e amei Sideways, pra citar uma de cada tipo. Esse ultimo, amei mais do que minha alma ja imaginou que se pode amar um filme. E deliciosamente engracado, e todas as pessoas do mundo deveriam assistir.
A menina do quarto dois e a Michelle, que dividiu o quarto comigo no ano passado, e que de repente eu descubro ser a pessoa que eu menos conheci nesse pais. Porque eu nao acredito que as pessoas mudam. Eu so acredito que o pacote se desembrulha aos poucos. Ela gosta mais de alcool e de hiphop do que de respeitar as pessoas. E acha que o Brazil eh uma terra de gente viciada em drama, e eu nao estou falando de novelas.
As culpadas dessa conclusao da Michelle somos eu e a Maria, a menina do quarto 3. Brasileira como eu, ela mora no Texas desde os 8 anos. Ela era a melhor amiga da Candice, mas veja como sao as coisas: Por mais que paguemos o mesmo aluguel, que frequentemos a mesma universidade; por mais que a Maria fale ingles sem sotaque e portugues enrolado, rola no psicologico dessa casa uma divisao entre as moradoras do quarto um e dois e as dos quartos tres e quatro - a ordem numerica, segundo quem vem antes, corresponde aa ordem de importancia.
E um saco mesmo, mas as estadunidentes daqui acham que o poder de ditar as regras lhes foi herdado naturalmente. Afinal, eu e a Maria nao sabemos tirar vantagem das coisas como elas sabem, ate essa bobeira eu ja fui obrigada a ouvir. E eu so ESPERO DO FUNDO DO MEU CORACAO que qualquer semelhanca com o capitalismo, o destino manifesto e a hegemonia mundial seja mera coincidencia. Porque se nao ia ser um saco a previsibilidade desse mundo.

***Eu tambem tenho um emprego novo. Eh so voce clicar aqui que voce vai ver o meu nomezinho la. No trabalho e na faculdade eu aprendo tanta coisa que parece que meu cranio fica pequeno pro meu cerebro e minha cabeca doi. Eh muito gostoso.

****Eu tambem andei me arriscando a escrever aqui. Essa e uma experiencia de jornalismo cidadao do Austin Statesman, o jornal local, pra cobrir o Austin City Limits - que foi mais do que sensacional.
Alias, como o Sem Os Acentos nao e um blog jornalistico, eu posso contar essa parte: EU VI O SHOW DO COLDPLAY DE TAO PERTO! DE TAO PERTO! DEUS SALVE AS CREDENCIAIS PRA JORNALISTA, UM DIA ESSA PROFISSAO TINHA QUE VALER DE ALGUMA COISA (bricadeirinha, brincaderinha)... NAO FOI O MELHOR SHOW DO FESTIVAL - O ARCADE FIRE MANDOU BEM DEMAIS - MAS FOI O MAIS APAIXONANTE! MEU, ESSES CARAS TEM UMA ENERGIA MTO LEGAL NO PALCO, E MUITO DIFERENTE, E DE ARREPIAR.
Pronto, agora voces esperem minha "coberturazinha do ACL", num blog que eu vou colocar no ar essa semana, que vai ser mais seria do que essa bobeira que acabo de escrever.
E agora o trico esta em dia.